Nada melhor que ser figurante. Falo isso por experiência que tive, durante um mês, em minhas férias de verão, no Rio de Janeiro. Estive ao lado de atores como: Carolina Dieckmann, Lilian Cabral, Malvino Salvador, Sophie Charlotte, entre tantos outros. Vesti das roupas mais belas as mais cafonas. Experimentei a sensação de ser maquiada no mesmo espaço da atriz Heloísa Perissé. Jantei e almocei em um dos restaurantes mais chiques do Projac e tive crachá temporário para adentrar lá.
Esse negócio de ser protagonista não vale o Oscar. Essa mania de ser sempre a mocinha contente e o mocinho valente é o que enfraquece o roteiro. O bom mesmo é ser figurante. Muitas vezes ser o diretor já é complicado que aspirar ao papel principal, então, é pura roubada. Você como figurante não há paparazzis e câmeras voltada a sua atenção, é verdade. Mas, em contrapartida não tem um crítico observando cada ato, passo ou fala. Você não pode ser culpado por uma cena mal feita, tampouco a exigência demasiada depois de um prêmio ao Oscar. Não precisa ter fonoaudiólogo, assessoria de imprensa, estilista e um agente influente. Ninguém quer saber se você gagueja. Não é necessário ter o cabelo mais esbelto, o sorriso mais branco, o corpo mais definido e as roupas mais caras. A revista Caras e Quem sobrevivem sem você, e os spa's também. Ser figurante é receber cachê, alimentação, trabalhar menos horas semanais, e ainda de quebra, pode adubar o umbigo com o reconhecimento do vizinho ali da esquina: "Vi você na televisão". Figuração é balançar a cabeça - silenciosamente - na reunião de diretores. É caminhar andando aos fundos de uma briga na rua e virar a cabeça para olhar. É ser cliente de restaurante e fingir que está conversando, enquanto a cena principal se desenrola. É ficar dentro do salão de beleza e simular que está pintando as unhas. É passar horas se arrumando, para depois, obscurecerem a cena que você iria aparecer durante um segundo. É aparentar que está comprando em um dos camelódromos. É ficar andando de um lado para o outro com sacolas em um dia de 40º graus, ou em uma tempestade sem fim. É ficar atento ao alvará do diretor do dia quando diz: "Atenção, figuração!".
Você, feliz figurante, só precisa se comprometer com aquilo que é capaz, não se envolver com o que não é, nem ficar se emaranhando em atuações onde não tem certeza do seu "talento". Seu autógrafo mais bonito é o da carteirinha da faculdade e seu filme de maior sucesso continua sendo aquele de porta-retrato.
Em toda a literatura (de ficção e não ficção) e todo o jornalismo (informativo, interpretativo e opinativo), o único gênero que vive concedendo um minuto de atenção ao figurante é precisamente este que você lê agora. Mas o espaço é pequeno, e mais não posso falar. Um dia retornarei ao assunto.
0 comentários:
Postar um comentário