segunda-feira, 23 de abril de 2012

Atenção, figuração!


Nada melhor que ser figurante. Falo isso por experiência que tive, durante um mês, em minhas férias de verão, no Rio de Janeiro. Estive ao lado de atores como: Carolina Dieckmann, Lilian Cabral, Malvino Salvador, Sophie Charlotte, entre tantos outros. Vesti das roupas mais belas as mais cafonas. Experimentei a sensação de ser maquiada no mesmo espaço da atriz Heloísa Perissé. Jantei e almocei em um dos restaurantes mais chiques do Projac e tive crachá temporário para adentrar lá.

Esse negócio de ser protagonista não vale o Oscar. Essa mania de ser sempre a mocinha contente e o mocinho valente é o que enfraquece o roteiro. O bom mesmo é ser figurante. Muitas vezes ser o diretor já é complicado que aspirar ao papel principal, então, é pura roubada. Você como figurante não há paparazzis e câmeras voltada a sua atenção, é verdade. Mas, em contrapartida não tem um crítico observando cada ato, passo ou fala. Você não pode ser culpado por uma cena mal feita, tampouco a exigência demasiada depois de um prêmio ao Oscar. Não precisa ter fonoaudiólogo, assessoria de imprensa, estilista e um agente influente. Ninguém quer saber se você gagueja. Não é necessário ter o cabelo mais esbelto, o sorriso mais branco, o corpo mais definido e as roupas mais caras. A revista Caras e Quem sobrevivem sem você, e os spa's também. Ser figurante é receber cachê, alimentação, trabalhar menos horas semanais, e ainda de quebra, pode adubar o umbigo com o reconhecimento do vizinho ali da esquina: "Vi você na televisão". Figuração é balançar a cabeça - silenciosamente - na reunião de diretores. É caminhar andando aos fundos de uma briga na rua e virar a cabeça para olhar. É ser cliente de restaurante e fingir que está conversando, enquanto a cena principal se desenrola. É ficar dentro do salão de beleza e simular que está pintando as unhas.  É passar horas se arrumando, para depois, obscurecerem a cena que você iria aparecer durante um segundo. É aparentar que está comprando em um dos camelódromos. É ficar andando de um lado para o outro com sacolas em um dia de 40º graus, ou em uma tempestade sem fim. É ficar atento ao alvará do diretor do dia quando diz: "Atenção, figuração!".

Você, feliz figurante, só precisa se comprometer com aquilo que é capaz, não se envolver com o que não é, nem ficar se emaranhando em atuações onde não tem certeza do seu "talento". Seu autógrafo mais bonito é o da carteirinha da faculdade e seu filme de maior sucesso continua sendo aquele de porta-retrato.

Em toda a literatura (de ficção e não ficção) e todo o jornalismo (informativo, interpretativo e opinativo), o único gênero que vive concedendo um minuto de atenção ao figurante é precisamente este que você lê agora. Mas o espaço é pequeno, e mais não posso falar. Um dia retornarei ao assunto.

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