terça-feira, 24 de julho de 2012
O bichinho da perfeição
O padrão inatingível de beleza amplamente difundido na TV, nas revistas, no cinema, nos desfiles, nos comerciais, penetrou no inconsciente coletivo das pessoas, ou melhor: no coletivo das mulheres. Ser perfeita, estar perfeita aos moldes dessas musas rondeia o universo de nove a cada dez mulheres. Estatística que eu fiz, confesso. Mas não em fatos utópicos, ilusórios. Constatado pela realidade mesmo. Preocupar-se com a boa forma e com o cardápio de cada dia é fundamental em nossa vida. Sim, me incluso nessa paranoia também. E vocês não imaginam como.
Uma sociedade que sufoca, que exige e nós, que nos deixamos levar, somos sim, bem levianas. Admitamos. Estamos cansadas de saber que cada corpo tem uma estrutura, mas ainda assim insistimos em ter as coxas bem definidas da Sabrina Sato, a cintura fininha da Kim Kardashian e o corpo típico de brasileira da atriz Juliana Paes, Cléo Pires ou Paola Oliveira. Para isso devemos estabelecer algumas regrinhas básicas: comer em pequenas porções, de três em três horas, e nada de carboidratos após às 18h. Na academia, gastar ao menos uns 30 minutos diário de aeróbico e depois dedicar-se às cargas bem pesadas. Doces só aos fins de semana, massas só em pequenas porções, e refrigerante nem cogitemos. Cigarro para não sentir forme, e café? Apenas preto e passado. Recomendável se cuidar, o amor-próprio massageando o ego. Anotou?
Difícil aprovarmos completamente o nosso corpo. Se emagrecemos vem o bichinho da perfeição, apita em sinal reluzente em vermelho a fim de nos avisar que estamos muito magras. Assim, nos vemos contaminadas logo após entrar na veia o veneno desse sentimento obscuro e que, munidas de segurança e boa autoestima, nem deveria infeccionar. Se vai o bichinho, tão logo no hostilizou. E enfraqueceu. Vamos então, engordar mais uns dois quilinhos para ver se fica bom. Não adianta, o namorado pode achar perfeito, as amigas ficarem encantadas com o corpo que vem adquirindo ao longo da malhação, a mãe reclamar dizendo para parar com a paranoia, mas a verdade é que nós nunca estaremos satisfeitas. A nossa consciência irá nos alarmar que aquele pastel de carne frito representa 700 calorias em nosso corpo, um copo de refrigerante representa aproximadamente nove colheres de açúcar e a barra de chocolate contém 286 de calorias. Gritante, repudiamos.
Em qualquer corpo dessas celebridade que gostaríamos de estar. Menos aqui. Menos no nosso. Para o século XXI o indicativo é esse: dentro de um padrão difícil de corresponder. Impossível. Nem dinheiro, nem amor, nem independência, nem sucesso, nem paz, nem inteligência, nem intelectualidade, nem sossego. A busca do corpo perfeito é que ronda nós - mulheres. Ainda que em pequenas porções. Afinal, o que os olhos dos outros não veem, esse incômodo bichinho que se chama perfeição, inventa.
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