domingo, 23 de setembro de 2012

Menina de cidade grande



Eu, nascida em uma cidadezinha interiorana de Goiás, conhecida como Anápolis - na época pouco desenvolvida , segundo relatos dos meus pais- e minúscula para receber quem vinha ao mundo. Desde a barriga da minha mãe fui urbanizada sem volta. Sendo assim, escapei de lá para viver em um grande centro urbano. Cidade com praia. Litoral. Mais conhecida como Fortaleza. E foi lá que criei minhas raízes; em meio ao caos, pude me libertar. Em meio a toda a multidão foi onde me encontrei. Trânsito, buzinas, pessoas com pressa, barulho, grito para mostrar que ali sim existe vida. Difícil só falar e não sentir na pele, pois, é na prática e na vivência, que em pequenos detalhes dá para notar o quanto tantas essas possibilidades apenas dão vida aos dias, e não contrário.

Vão atrás. Se aqui não está dando certo, tenta-se ali. Ficar parado, qual sentido? Não existe, não compreendem. O descanso, as horas de tédio, o ócio, são repugnantes a quem está sempre ligada na tomada, na potência máxima que existe. Geralmente, quando com horas vagas, acha-se o que fazer. Desde curso de idioma, caminhada no parque, teatro, cinema, shopping, mil e uma opções de alimentação, lojas sem fim, gente de tudo que é canto. Menina que cresce em meio à tamanha diversidade, acaba achando barbada ser do mundo. Taí uma das grandes diferenças entre as que são de grande centros urbanos às interioranas.

Aprendem com facilidade a ser independente de quem quer que seja. Atravessar a cidade de uma ponta a outra, sem ter a mínima noção do caminho que segue, do que a espera, até porque, isso não importa. O objetivo é único e é nele que se foca: o rumo que a espera. Não ser conhecida entre os vizinhos assim que o pé pisar na calçada. Aprendem com facilidade o desapego quando nada mais funciona. O tino rápido. A percepção instantânea. A ligeireza que está sempre presente. As amizades poucas, mas que valham a pena.

Bom convívio frente a quem for, mesmo que com o resguardo necessário, paz e harmonia somente para o final de semana: tá quase nos genes daquelas que vêm ao mundo nas maternidades lotadas dos bairros populosos. Atualmente, tenho a plena certeza de que estou deslocada disso tudo. Cidade calma, sem opções de lazer, sem o agito que me corre às veias, sem a pressa do dia-a-dia, sem nada. Apenas alguns cavalos na esquina de casa no finzinho de domingo à tarde. Com o tempo, menina de cidade grande vira quem quiser - mesmo demorando um pouquinho. O contrário não, vai por mim.




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