quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O dia em que o ponteiro do relógio travou


Um final de dia aparentemente tranquilo. Uma noite serena, calma e confortante - como tantas outras: no aconchego do seu abraço. Não fosse por um desequilíbrio emocional e uma rachadura, provocada por mim (confesso) nos ponteiros do relógio. Por pouco não terminamos o dia em paz, com palavras doces e suaves. Um assunto delicado, uma insensatez de pensamentos um tanto quanto instigatórios, que me levam sempre ao caos no meu íntimo mais escondido. Não estou acostumada a ter motivos, você me acostumou assim. Quando vem um, desço escorregando na velocidade máxima do alto do tobogã. Do alto, ao precipício. Dos sorrisos intermináveis, a choros que nem eu mesma consigo contabilizar.

O meu silêncio que perdura não só uma noite inteira, mas um dia. Vinte e quatro horas de puro silêncio denunciam a minha fragilidade emocional. Eu sempre tão sensata, tão dona de mim. Quem apostou, ganhou. Não é impossível, não. A minha quietude disfarça o meu coração, minúsculuzinho, de tão apertado que se apresenta. Não sou do tipo que briga, grita, xinga - aliás, você me conhece, abomino qualquer atitude parecidas a essas. É assim o meu eu, o meu mundo e o meu jeito de ser. Esse dia afetou a minha felicidade em um grau indescritível. Arrancou meus sorrisos, minhas meiguices e meu jeito todo seu de ser. Que dia interminável esse. Eterno. Seria mais fácil se eu soubesse esperar em paz, com graça santificada. Já dizia Virgia Woolf: "é diabólico o amor". Sim. Mata a gente. Nos fere ou em uma felicidade insuportável, ou numa tristeza profunda. Quem ama não bebe leite morno, não. Confesso preferir a felicidade insuportável que o nosso relacionamento nos proporciona, incrivelmente, todos os dias. Mas como nada é um mar de rosas, às vezes temos que passar por certas coisas, certos momentos de indecisão, perturbação e tempestade para quando voltarmos, ser ainda mais lindo.

Um dia inteiro se passou, eu no meu mundinho, economizando palavras e evitando que meus olhos se encontrassem aos seus. De banho tomado e - se você permitisse, mais uma noite em silêncio. Como sempre me surpreende, veio até mim. Pediu reconciliação, falou palavras bonitas. Um olhar de insegurança, pelo medo da minha reação, acredito eu. Percebi algo diferente: Ali também haviam lágrimas caindo. Ali foi o ápice. Não me contive mais. Se eu pedi desculpas: sim, foi difícil tirar de mim o peso do orgulho que não me deixa fazer isso quase sempre. Reconheça. É um pouco de paz isso de, mesmo em silêncio, escrevendo esse texto, ter na frente do computador quase um dia de abraços contidos. Coraçãozinho tá bem, disse.

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